quarta-feira, 5 de maio de 2010

Deve ... mas já não pode!

Quem já não sentiu vontade de tirar um dia inteiro só para dormir?
Mas existem compromissos esperando.


A gente pode tirar esse dia, mas não deve.


A gente pode largar o burburinho da cidade,
ir para a praia, para o campo em dia " útil ",
sem dar satisfações a ninguém.


A gente pode, mas não deve.


A gente pode ficar uma semana longe da escola
e só " curtindo " histórias em quadrinhos.


A gente pode, mas não deve.


Há filhos chamando, temos que atende-los.
Muitas vezes a gente pode deixar de atender.


A gente pode, mas não deve.


Há os pais desejando de nós um " melhor " desempenho.
A gente pode ignorar exigências maternas ou paternas.


A gente pode, mas não deve.


O amor acena, o coração escolhe a quem amar,
mas nós o ignoramos - tantas vezes!


-temendo não ser a pessoa " certa ".
A gente poderia arriscar ... quem sabe? ...a gente pode.


A gente pode, mas não deve.


A sociedade espera que sigamos o modelo chamado "normal".
A gente pode escapar dos padrões sociais,
dos ditames da moda e da " moral " social.


A gente pode, mas não deve.


Há cartas chegando, há telefonemas urgentes,
há e-mails chamando.


A gente corre para responder, para providenciar,
para atender.


A gente pode desligar o telefone,
pode não ligar o computador.


A gente pode, mas não deve.


Desde o despertar - e até a hora de dormir outra vez -
a gente corre, a gente cansa, a gente não descansa!


O despertador toca de novo e tudo poderia ser mudado,
movido pela vontade, pela entrega ao fluxo natural da vida...
...mas e o controle?


A tudo queremos controlar e, por todos e por tudo,
nós nos deixamos ser controlados.
É o medo no comando!
E a vida continua ... sem cara de vida ...
Permanecemos enganados por nós próprios.
A gente quer e sabe que pode mudar quase tudo.
A gente pode, mas não deve.


Até que chega o dia que nos pega distraídos,
e os nossos olhos interiores finalmente se abrem!

Eles vêem o quanto perdemos de nós e do tempo!
Eles vêem o quanto já nos roubamos!


Geralmente chega esse dia quando já nos resta
apenas um corpo velho, doente de tristeza,
de frustração, dependente, sem forças para avançar.

E nele está nosso espírito enfermo desejando se libertar
de tão obscura, antiga e fria prisão.


Queremos voltar no tempo,
fazer tudo que de fato desejávamos

fazer e que não fizemos.
Sentimos que é necessário fazer a grande virada!


Aí a gente assume que deve fazer.
Deve ... mas já não pode!


Silvia Schmidt

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