Nada sei e tanto quero aprender; ensina-me. Se puderes, ensina-me a respirar. Desde o primeiro dia não sei fazer isso direito. Mostra-me o que é a inspiração. Depois me ensina a chorar. Por falar em choro, ensina-me a não ficar triste quando vejo na rua algum homem parecido com meu pai. Ensina-me a treinar a vista para evitar ilusões. Ensina-me a aceitar a morte. Quero aprender tantas coisas, mas uma de cada vez. A andar, a falar, a escrever. A comer, a beber, a dormir. Os cinco sentidos, a intuição, a profecia: ensina-me. Nada prometo em paga, pois já te amo e te amarei por toda a vida. Há tantos livros, tantas roupas, tantas frases: não sei escolher. Sei que devo começar uma frase com letra maiúscula e terminar com ponto final. Sei que não posso começar a me vestir pelos sapatos. Sei que devo reler a Bíblia, Os Sertões e Guerra e Paz. Sei que devo ler a Ilíada e a Odisséia. Mas não sei o que vou fazer quando crescer. Não sei fazer. Não sei crescer. Não sei. Ensina-me a falar inglês e italiano. Ensina-me a arrumar o quarto. Mostra-me como arrumar as toalhas. Lembra-me de fechar direito as torneiras. Lembra-me de olhar a agenda. Lembra-me de pagar as contas e evitar as multas. Lembra-me – porque esqueço tanto. Se acordo com aquela música ridícula na cabeça, ensina-me a não cantá-la – ou cantá-la só uma vez. Se tenho dores no corpo, manda-me fazer exercícios ou pelo menos caminhar no final da tarde. Se fico irritado com alguma bobagem política, diz-me apenas o que ela é: uma bobagem política. Ensina-me a ganhar dinheiro – e a guardá-lo.Ensina-me a ser doce, a ser carinhoso, a ser calmo, a perdoar. Ensina-me a não guardar rancor na geladeira. Ajuda-me – como ensina o Evangelho – a rezar pelos meus inimigos antes de dormir. Ensina-me a beber menos, a ouvir mais, a olhar a Lua e o poente. Ensina-me a brincar com bebês e pequenos cães. A acordar cedo e a não levantar no meio da noite. A fazer café. A imitar Paulo. Ensina-me a sofrer só a dor necessária de cada dia. E nada te dou em troca. Porque te amo e te amarei para sempre. Nada te dou em troca, exceto a vida.
Paulo Briguet
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