sábado, 4 de setembro de 2010

O casamento

Naquela noite, enquanto minha esposa
servia o jantar, eu segurei sua mão e disse: "Tenho algo importante para
te dizer". Ela se sentou e jantou sem dizer uma palavra. Pude ver
sofrimento em seus olhos.

De repente, eu também fiquei sem palavras.
No entanto, eu tinha que dizer a ela o que estava pensando. Eu queria o
divórcio. E abordei o assunto calmamente.

Ela não parecia irritada pelas minhas
palavras e simplesmente perguntou em voz baixa: "Por quê?"
evitei respondê-la, o que a deixou
muito brava. Ela jogou os talheres longe e gritou "você não é homem!"
Naquela noite, nós não conversamos mais. Pude ouví-la chorando. Eu sabia que
ela queria um motivo para o fim do nosso casamento. Mas eu não tinha uma
resposta satisfatória para esta pergunta. O meu coração não pertencia a ela
mais e sim a Jane. Eu simplesmente não a amava mais, sentia pena dela.
Me sentindo muito culpado, rascunhei um
acordo de divórcio, deixando para ela a casa, nosso carro e 30% das ações da
minha empresa.
Ela tomou o papel da minha mão e o rasgou
violentamente. A mulher com quem vivi pelos últimos 10 anos se tornou uma
estranha para mim. Eu fiquei com dó deste desperdício de tempo e energia mas eu
não voltaria atrás do que disse, pois amava a Jane profundamente. Finalmente
ela começou a chorar alto na minha frente, o que já era esperado. Eu me senti
libertado enquanto ela chorava. A minha obsessão por divórcio nas últimas
semanas finalmente se materializava e o fim estava mais perto agora.

No dia seguinte, eu cheguei em casa tarde
e a encontrei sentada na mesa escrevendo. Eu não jantei, fui direto para a cama
e dormi imediatamente, pois estava cansado depois de ter passado o dia com a
Jane.

Quando acordei no meio da noite, ela ainda
estava sentada à mesa, escrevendo. Eu a ignorei e voltei a dormir.

Na manhã seguinte, ela me apresentou suas
condições: ela não queria nada meu, mas pedia um mês de prazo para conceder o
divórcio. Ela pediu que durante os próximos 30 dias a gente tentasse viver
juntos
de forma mais natural possivel. As suas razões eram simples: o nosso filho
faria seus exames no próximo mês e precisava de um ambiente propício para
preparar-se bem, sem os problemas de ter que lidar com o rompimento de seus pais.


Isso me pareceu razoável, mas ela
acrescentou algo mais. Ela me lembrou do momento em que eu a carreguei para
dentro da nossa casa no dia em que nos casamos e me pediu que durante os
próximos 30 dias eu a carregasse para fora da casa todas as manhãs. Eu então
percebi que ela estava completamente louca mas aceitei sua proposta para não
tornar meus próximos dias ainda mais intoleráveis.

Eu contei para a Jane sobre o
pedido da minha esposa e ela riu muito e achou a idéia totalmente absurda.
"Ela pensa que impondo condições assim vai mudar alguma coisa; melhor ela
encarar a situação e aceitar o divórcio" ,disse Jane em tom de
gozação.

Minha esposa e eu não tínhamos
nenhum contato físico havia muito tempo, então quando eu a carreguei para fora
da casa no primeiro dia, foi totalmente estranho. Nosso filho nos aplaudiu
dizendo "O papai está carregando a mamãe no colo!" Suas palavras me
causaram constrangimento. Do quarto para a sala, da sala para a porta de
entrada da casa, eu devo ter caminhado uns 10 metros carregando minha esposa no
colo. Ela fechou os olhos e disse baixinho "Não conte para o nosso filho
sobre o divórcio" Eu balancei a cabeça mesmo discordando e então a
coloquei no chão assim que atravessamos a porta de entrada da casa. Ela foi
pegar o ônibus para o trabalho e eu dirigi para o escritório.

No segundo dia, foi mais fácil para
nós dois. Ela se apoiou no meu peito, eu senti o cheiro do perfume que ela
usava. Eu então percebi que há muito tempo não prestava atenção a essa mulher.
Ela certamente tinha envelhecido nestes últimos 10 anos, havia rugas no seu
rosto, seu cabelo estava ficando fino e grisalho. O nosso casamento teve muito
impacto nela. Por uns segundos, cheguei a pensar no que havia feito para ela
estar neste estado.

No quarto dia, quando eu a
levantei, senti uma certa intimidade maior com o corpo dela. Esta mulher havia
dedicado 10 anos da vida dela a mim.

No quinto dia, a mesma coisa. Eu
não disse nada a Jane, mas ficava a cada dia mais fácil carregá-la do nosso
quarto à porta da casa. Talvez meus músculos estejam mais firmes com o
exercício, pensei.

Certa manhã, ela estava tentando
escolher um vestido. Ela experimentou uma série deles mas não conseguia achar
um que servisse. Com um suspiro, ela disse "Todos os meus vestidos estão
grandes para mim". Eu então percebi que ela realmente havia emagrecido
bastante, daí a facilidade em carregá-la nos últimos dias.

A realidade caiu sobre mim com uma
ponta de remorso... ela carrega tanta dor e tristeza em seu coração.....
Instintivamente, eu estiquei o braço e toquei seus cabelos.

Nosso filho entrou no quarto neste
momento e disse "Pai, está na hora de você carregar a mamãe". Para
ele, ver seu pai carregando sua mão todas as manhãs tornou-se parte da rotina
da casa. Minha esposa abraçou nosso filho e o segurou em seus braços por alguns
longos segundos. Eu tive que sair de perto, temendo mudar de idéia agora que
estava tão perto do meu objetivo. Em seguida, eu a carreguei em meus braços, do
quarto para a sala, da sala para a porta de entrada da casa. Sua mão repousava
em
meu pescoço. Eu a segurei firme contra o meu corpo. Lembrei-me do dia do nosso
casamento.

Mas o seu corpo tão magro me deixou
triste. No último dia, quando eu a segurei em meus braços, por algum motivo não
conseguia mover minhas pernas. Nosso filho já tinha ido para a escola e eu me
vi pronunciando estas palavras: "Eu não percebi o quanto perdemos a nossa
intimidade com o tempo".

Eu não consegui dirigir para o
trabalho.... fui até o meu novo futuro endereço, saí do carro apressadamente,
com medo de mudar de idéia...Subi as escadas e bati na porta do quarto. A Jane
abriu a porta e eu disse a ela "Desculpe, Jane. Eu não quero mais me
divorciar".

Ela olhou para mim sem acreditar e
tocou na minha testa "Você está com febre?" Eu tirei sua mão da minha
testa e repeti "Desculpe, Jane. Eu não vou me divorciar. Meu casamento
ficou chato porque nós não soubemos valorizar os pequenos detalhes da nossa
vida e não por falta de amor. Agora eu percebi que desde o dia em que carreguei
minha esposa no dia do nosso casamento para nossa casa, eu devo segurá-la até
que a morte nos separe.

A Jane então percebeu que era
sério. Me deu um tapa no rosto, bateu a porta na minha cara e pude ouví-la
chorando compulsivamente. Eu voltei para o carro e fui trabalhar.

Na loja de flores, no caminho de
volta para casa, eu comprei um buquê de rosas para minha esposa. A atendente me
perguntou o que eu gostaria de escrever no cartão. Eu sorri e escrevi:
"Eu te carregarei em meus braços todas as manhãs até que a morte nos separe".


Naquela noite, quando cheguei em
casa, com um buquê de flores na mão e um grande sorriso no rosto, fui direto
para o nosso quarto onde encontrei minha esposa deitada na cama - morta.

Minha esposa estava com câncer e vinha se tratando a vários meses,
mas eu estava muito ocupado com a Jane para perceber que havia algo errado com
ela. Ela sabia que morreria em breve e quis poupar nosso filho dos efeitos de
um divórcio - e prolongou a nossa vida juntos proporcionando ao nosso filho a
imagem de nós dois juntos toda manhã. Pelo menos aos olhos do meu filho, eu sou
um marido carinhoso.

Os pequenos
detalhes de nossa vida são o que realmente contam num relacionamento. Não é a
mansão, o carro, as propriedades, o dinheiro no banco. Estes bens criam um
ambiente propício a felicidade mas não proporcionam mais do que conforto.
Portanto, encontre tempo para ser amigo de sua esposa, faça pequenas coisas um
para o outro para mantê-los próximos e íntimos. Tenham um casamento real e
feliz!

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