terça-feira, 31 de maio de 2011
Pega meu corpo de boneca— faz o que quiser.
Pega meu corpo de boneca
inflável
— língua nos meus dedos devagar.
Aproveita que não éramos
uma Penélope recalcada
que perdeu seu homem pra
uma feiticeira.
Nós éramos a feiticeira.
Pega meu corpo de boneca
inflável
— palavrões nos meus ouvidos.
Queríamos ser a
Maria Magdalena
pra ter a certeza
que conseguiríamos corromper
o cristo.
Nós éramos a prostituta.
Pega meu corpo de boneca
inflável
e me acaricia na nuca,
que eu não era uma
Camélia prostrada
e a Branca de Neve
que conhecemos era só
mais um vírus na internet.
Nós éramos a maçã.
Pega meu corpo de boneca
inflável
— me morde nas coxas.
Que eu não tinha as neuras
de Mrs. Dalloway
nosso dia nos possuía em 52h e
e no nosso cardápio
não entrava baratas.
Nós éramos as donas da casa.
Pega meu corpo de boneca
inflável
— me espanca, faz o que quiser.
Pois há muito estupraram o amor
e não havia nada
que sobrevivesse à cama,
nosso front, nossa trincheira,
com estratégias jamais reveladas
em revistas femininas.
Pega meu corpo de boneca
inflável
que não era hora de se pensar.
A cama
o transe
e o nada.
sucumbido ali no meu corpo:
um homem
como muitos outros homens.
E se por acaso você não me obedecesse
e me largasse sozinha por aí,
encontraria um outro dia
o sorriso sensual
da soberba indiferença,
que sacode os ombros e
dá as costas decotadas no
passo afirmado do salto.
Nós éramos Walkírias.
éramos guerreiras
nós éramos as Walkírias.
Ana Rüsche
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