E muito tempo se passou durante as horas vagas… E a música que eu escutava repetidas vezes, tive que substituir por novas vozes. Pois se é novo o momento, para que lembrar o ido, o frouxo, o genérico, o amor antigo,as coisas que foram levadas pelo vento? Eu que quero coisas de verdade, que sinto as coisas de verdade e busco histórias tão mais reais e me retiro dos platonismos com toda a falta de elegância que me foi ensinada. E não sei representar nem quando subo no palco, com os pés descalços, com a alma nua, declamando poesias que dizem o quanto eu gostei de ter sido tua. Mas agora sou minha, sou de vocês, sou do mundo outra vez.
E muito tempo se passou e durante instantes eu estive mais vaga que as horas todas. E cuidei dos vazios, e busquei os vazios inteiros, mergulhei fundo nos abismos, e achei que estar lá no fundo das coisas é tão bom quanto respirar na superfície. E das pessoas eu vi as sombras para proferir a luz, que é do mesmo tamanho. E das carícias eu recebi apenas as que tinham calor, pois este penetra a pele do poema que é a palavra.
E hoje, até posso olhar para trás, pois não sei andar de costas. Mas o passado, já dizia aquela música que escutei repetidas vezes, é uma roupa que não me serve mais.”
Marla de Queiroz
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