E mil perdões dentro do peito. Perdão por eu ser baixinha, penso. Não falo, mas penso. Perdão pelas minhas olheiras, perdão pelo meu pé estranho. Perdão pelo meu dente grande e torto. Perdão por eu ter faltado no Pilates ontem, pela minha barriga que já não é mais a mesma, pela minha bunda que nunca foi. Nada disso falo, mas o tempo todo, quero pedir perdão.
Sua beleza é tanta que me sinto em falta com o cosmos. Sua superioridade é tanta que juro, baixinho, pra mim: nunca mais vou usar aquele pijama amarelo com ursos e o pote de mel, nunca mais vou sentar corcunda em restaurantes, nunca mais vou preferir os sapatos confortáveis, nunca mais vou comprar edredom na M. Martan, nunca mais vou ficar sem depilar só para os pêlos crescerem bastante e não ficaram encravados. Nunca mais, oh, Deus, oh rei, nunca mais.
Perdão. Pelo lixo nas ruas. Pelo ar seco. Por esse cara que passou agora buzinando e xingando lá fora. Pelos pêlos de cachorro na minha meia calça. Perdão por eu não falar com sotaque britânico. Perdão pelo mendigo que vi na Av. Brasil.
[...] sigo pedindo perdão, sempre, com as pernas bem cruzadas. Para eu toda não virar uma imensa vagina e te sugar para sempre. Tirando do mundo de uma vez esse erro, essa coisa além, estraga prazeres, essa constatação de que estivemos todos errados e feios e sujos e pobres e menores esse tempo todo.
Isso é uma ofensa pra humanidade. É você quem deveria pedir desculpas dizendo: Perdão por eu não combinar com o mundo.
[Tati Bernardi]
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