sábado, 16 de novembro de 2013

Sempre tive pés falhos.




Sempre tive pés falhos. Pés que falharam na vontade de prosseguir. Na ânsia de deixar pra trás. Que falharam na curiosidade de descobrir o que havia pela frente.
Sempre tive pés medrosos. Como será o solo ainda desconhecido? Movediço? Árido? Cheio de espinhos? Medos famintos que engoliram a necessidade de andar para frente.
Sempre tive pés tortos. Sempre pisei nas suas extremidades. Nunca de pé cheio. Talvez pelas incertezas da caminhada. Ou talvez porque viver é caminhar torto mesmo: cambaleando nas pernas, procurando por algo em que se apoiar.
Sempre tive pés que minavam meus movimentos. Que me deixavam parado, à espera do que nunca veio. Do que nunca viria.
Mas sempre abriguei, adormecida em algum lugar entre o joelho e o calcanhar, uma gota de coragem suficiente para dar ao meu pé a força para o próximo passo. Com pé direito. Em solo fértil. Ao encontro da flor que me recebeu com um sorriso. Que me fez desabrochar.“

(João Célio Caneschi)

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