domingo, 28 de maio de 2017
Bota mais uma dose desse desnatado leite, que hoje quero dormir embriagado
Bota mais uma dose desse desnatado leite, que hoje quero dormir embriagado com meu próprio sono. Canela em pó, por gentileza, e me dê também quatro a cinco biscoitos de leite. Põe na conta do meu tio, dono da bodega, na mesma comanda que você anotou, na terça passada, aquelas balinhas de yogurte 100 com uma caçulinha cheia de gás que me deixou cheio de energia para a pelada do fim da tarde. Fiz três gols aquele dia, ralei meu joelho naquela pedra de calçamento e tomei água, quando acabou o jogo, na casa daquela vizinha mexeriqueira. Foi tão bom quanto na segunda, quando toquei na campainha do vizinho e saí correndo, com meus coleguinhas, sem motivo algum. Na esquina passei trote perguntando se era da padaria e deslizei, correndo, por várias cacimbas de terra de construção. Foram bons demais aqueles dias há dez anos, quando brincava de pega-pega e paquerava as menininhas de vestidos retrô. Bota mais, bota, vai, quero ficar bêbado nessas lembranças, pensar que meu uísque é, na verdade, o mesmo leite com canela que me fazia dormir bem antes de mais um dia de criança elétrica dos anos 90. Pipa não soltava, computares usava pouco, mas correr que era bom, amigos, isso eu corria que era uma beleza. O mais veloz, o mais audaz, o mais chatinho, o dono da bola e dos balões. Bota mais, que as lembranças vem vindo, o sono vai indo e minha idade mais parece um número, só um número vazio e sem significado
— A.E.C Souza
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