sábado, 4 de janeiro de 2020
Hoje é dia de faxina em mim
Hoje é dia de faxina em mim, hora de jogar fora o que passou da hora. Hora de levantar o tapete para ver o que escondi sob a esperança mofada. Momento de buscar coragem para se desapegar do que não serve mais.
O tempo que é veneno também remedia. Percorro os meus cômodos interiores para encontrar sentimentos feridos que, independente do meu cuidado, foram a óbito. Nem sempre a vida recompensa a nossa vigília velando as belezas que não queremos perder.
Abro o armário e retiro as roupas que não cabem mais no meu corpo. Percebo que o meu corpo já não quer vestir muito do que tenho, corpo também não cabe. Vejo tanta coisa certa que virou problema por estar no lugar errado. Vejo tanta coisa errada, no lugar certo, enganando os meus sentidos.
É preciso organizar, não só a bagunça, mas até mesmo a organização. As coisas podem estar arrumadas, porém tudo no lugar errado. Não há sentido em carregar o que não tem sentido. Não é inteligente aglomerar aquilo que nos expulsa de nós mesmos.
Hoje é dia de limpar o lixo, de se desapegar do que não edifica, de renunciar a tudo que mata. Medos, quem não os têm? Decepções, quem nunca viveu? Tristezas, quem nunca experimentou? Agora é preciso passar de sobrevivente à vivente.
Para não virarmos terreno baldio ostentando entulhos, de vez quando precisamos colocar a vida cara a cara com o tempo.
Andrade Moraes
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