Não pretendo um amor sólido tendo em vista a grande possibilidade de um sólido se romper à menor mudança de temperatura de pressão.
Pretendo um amor líquido que se adapte a qualquer recipiente e, sorvido em grandes goles, molhe os lábios, escorra pelo pescoço e umedeça os países ao sul do continente.
Líquido, para que, aquecido, evapore, suba ao céu, chova sobre mim, encharque o chão e tire essa tal de segurança de debaixo dos meus pés e deixe lama entre meus dedos.
não pretendo um amor assim, concreto,
não pretendo um amor assim, rígido,
não pretendo um amor, assim, sólido
mas líquido, incerto, insólito.
E se uma frente fria vinda diretamente da Patagônia torná-lo gelo, frio, pedra, que baste deixá-lo ligeiramente exposto ao seu olhar e ele, regredindo a seu estado original, volte a matar essa sede amiga, inseparável, do sertão de nós."
André Gonçalves
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