Net fica triste quando você cai em si e percebe que nunca chegará a conhecer aquela pessoa que se tornou especial, marcando presença na sua telinha quase todos os dias.
A Net fica triste quando, por mais que você escreva, você não pode apertar
uma mão, enxugar uma lágrima.
A Net fica triste quando as pessoas somem da sua telinha sem explicação.
Você sabe que elas estão por aí porque as linhas se cruzam, mas não sabe porque
o amigo, a amiga de ontem deixaram de apreciar sua presença virtual... e bem
sabemos que cobrar não é de bom tom.
A Net fica triste quando não podemos ver nos olhos das pessoas queridas o
brilho que somente o face a face permitiriam conhecer.
A Net fica triste quando você ouve alguém dizer: Ah...mas isto é virtual,
não dá para levar a sério! Quer dizer então que a troca de sentimentos, as
confidências, os desabafos não valem nada? Não são para serem levados a
sério?
A Net fica triste quando impera a lei do descompromisso, da neutralidade,
do não misturar as estações, como se tivéssemos duas caras: uma voltada para o
lado de fora, que é onde devemos fincar os pés, outra voltada para o lado de
dentro da tela, vivenciada como a segunda opção de importância questionável e
relativa.
Bem, a Net é assim e continuará sendo assim. É da natureza dela ser imensa,
gigantesca, oceânica, excessiva. Nela nos diluímos como gotinhas perdidas em mar
encapelado.
Jamais poderemos saber qual a onda mais forte que levará para longe de nós
as gotinhas de amigos, amigas, amores, afetos que gostaríamos de manter sempre
juntinhos de nós... mesmo sem nunca tê-los visto, mesmo sem nunca tê-los
abraçado, mesmo sem nunca ter enxugado suas lágrimas, apertado suas mãos ou
visto o brilho de seus olhos.
E, no entanto, há milhares de pessoas para quem a Net não é a segunda
opção, mas a única opção de alegria, aprendizagem, expressão, troca de afetos,
porque suas realidades são por demais tristes e desbotadas.
Não queira ter aqui um milhão de amigos! Não pratique a lei do
descomprometimento virtual. Tenha aqui poucos afetos, mas que sejam cultivados e
tornem-se gotinhas que caminharão juntas e inseparáveis, mesmo em face à
dimensão oceânica deste que ainda é um milagre chamado Net.
Fátima Irene Pinto
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