terça-feira, 22 de abril de 2014
Pelo amor ou pela dor
Você já ouviu falar que aprendemos pelo amor ou pela dor?
Acredita que podemos aprender tudo pelo amor? Eu, particularmente, acho que ainda não. A experiência de cada um de nós demonstra que costumamos aprender muito mais pela dor do que pelo amor.
Desde crianças temos a oportunidade de aprender através do amor. São os conselhos e ensinamentos exaustivos do pai e da mãe, os exemplos, as lições que recebemos dos mais velhos. Alguns nós seguimos. Muitos outros nós não seguimos. E aprendemos com nossas próprias experiências. Às vezes repetimos as mesmas experiências de nossos pais, sendo que seria fácil para nós ter aprendido com a experiência deles.
Mas não dá pra negar a capacidade que a dor tem de nos ensinar. É que a dor, pelo menos neste nosso planeta, é mais experiente que o amor. A dor pega você de jeito, como quem não quer nada, e quando você vê está pronto para refletir.
O que o amor levaria meses para explicar, a dor demonstra em alguns minutos. O que o amor levaria várias reencarnações para ensinar, a dor ensina em alguns anos. A dor chama para si, obriga a sentar e ouvir. Com a dor física, você percebe que está abusando do corpo. Com a dor da saudade, você valoriza quem está longe. Com a dor do arrependimento, você reconhece o erro e se propõe a consertá-lo. Com a dor da solidão, você se dá conta de que não é uma ilha, de que não se basta sozinho. Com a dor do coração você nota que não é como gostaria de ser, que é bem mais falível, suscetível e sensível do que costuma pensar.
A dor arranca o seu disfarce. E você se vê como é de verdade. E, não importa como você seja, o fato é que você é único. E só. Sozinho num imenso universo. O único responsável por você mesmo. Autor, ator e crítico do próprio espetáculo. Você é responsável pelo seu corpo, é você que deve cuidar dele. Você é responsável por seus sentimentos, e deve aprender a lidar com situações conflituosas como solidão, saudade ou abandono. Você é responsável por seus pensamentos, palavras e ações, e está sujeito a fazer coisas de que se arrependerá.
E ao perceber que você é o único responsável por sua própria vida, você então permite ao outro que ele seja como ele é. Porque o outro também é o único responsável pela vida dele. O outro não tem o poder de influenciar a sua vida, a não ser que você permita. Do mesmo modo, você só vai influenciar a vida do outro se ele permitir.
E se você quer ser livre precisa saber que só existe liberdade onde houver tolerância. Se você não permite que o outro seja como ele é, se você não aceita que o outro seja diferente de você, você está preso ao outro. Está preso porque há uma questão mal resolvida que exige solução. A liberdade em relação aos demais só é alcançada se houver tolerância.
A dor é um mecanismo que serve para orientar, como uma bússola. Sempre que houver um desvio da rota, a dor alerta. Você pode ignorá-la por um bom tempo. E quanto mais você a ignora, mais forte ela fica, mais potencial de ensinamento ela adquire.
É claro que um dia aprenderemos mais com o amor. Aprenderemos mais facilmente, mais docilmente. Mas em nosso estágio evolutivo a dor ainda é de extrema utilidade. Sem ela, levaríamos muito mais tempo para aprender qualquer coisa. Não sentiríamos necessidade alguma de refletir. Não reclame da dor, aprenda com ela.
Morel Felipe Wilkon
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