quinta-feira, 19 de junho de 2014

Casamento na Roça



O noivo ao receber no altar sua noiva,
ouve do pai da futura esposa, esse aviso-poema.

Morço de faia macia,
Num pensa ki sor ignorante
Nun tenhu farcudade
Mas tenhu curagem
De dar-te um safanão
Num pensa ki vá ser farci
Levar mia fia amada
Virgem emproada
Pro cafundó do sertão
Ocê num sarbe o que façu
Se te pego no matu
Com outra galinha sarfada
Ki num seja a fia amada
Menina prendada
Ki nunca segurou um timão…
Kelo saber com tu surjeito
Da intenção que porta
Dento das carças rasgadas
Se é comportada
Quando intá sobre o colchão…
Num vá pensar ki por ser pobre
Num vô cortar sua cobra
Se deixar a menina aloucada
Se fartar cum tua atenção…

Conte tudo sem arremedo
Num farça beicinho de zangadu
Ou cum trejeitos aferminados
Num vire as mãos como viadu
Mostre os ducumentos
Kelo saber de fato
Se és cabra macho de fato
Jurando amor de fatu
Por mia fia amada
Nesse casamento armado
Nu arraia du cumpade
Ki apareça algum gaiato
Que diga ki tu és safado
Engravidou outra muié no roçadu…
Naum faça de rogadu
Conte tuas farras cabra-macho
Antes ki apareça uma coitada
Cum um filho nos braços
Afirmandu que és o pai sarfado
Que a levou para o matu
E lá engravidô…
Tenhu na cinta a peixeira
Nas mãos tenhu a espingarda
Cum elas te furo cum jeito…
Num chore fia amarda
Sei da sua pureza
Nunca pegaste um cajado
Dum matuto valente
Num ria pobre diabu
A fia é virgem de fatu
Padre pergunte a ersa gente…

O Padre:
Alguém contra esse casamento?
Entra uma mulher com uma criança no colo.
Pare esse casamento, seu padre!

A mulher:
Veja o que esse desgraçadu
Fez cumigu há norve mês…
Levou-me para o matu
Lá me enfiou o cajado
Prometendu u casarmentu…

O pai:
Vô matá esse caboclo abusadu
Cortar seu cajado
Exemplu prá outras gentes…

A testemunha:
O caboclo desesperado
Foge no rumo do mato
Jurando ser inocente…
É agarrado, depois açoitado!
Assume o filho desprezado
Casando…
Sem o pinto inocente…
Fim.

Agostinho M. da Costa

Nenhum comentário:

Postar um comentário