Hoje abri aquela gaveta… sim, aquela, a única que guardou o pó dos anos e das recordações… aquela que um dia fechei à chave e jurei que nunca mais abriria… aquela onde esqueci a tua última carta ainda por abrir…
Passado tanto tempo, decidi que era enfim tempo de lê-la. Tinha que saber porque partiste sem explicações, porque me magoaste… porque me deixaste para trás sem sequer uma palavra de conforto…
Segurei o papel amarelecido entre os dedos… parte de mim tinha medo do que ia encontrar… a outra sabia que era preciso enfim enfrentar o passado… Nunca voltaste…
Lembro-me do dia em que ma entregaste… a tua expressão ficou-me gravada na memória desde então… nunca soube bem como defini-la… havia tristeza, mas também desafio… havia coragem, mas pena… soube de imediato que tinhas decidido partir para bem longe… Esta terra era-te penosa… cada pedra, cada árvore, cada casa, cada pessoa te lembrava o que tinhas perdido e não conseguias mais suportá-lo… no fundo sempre o soube… que não ficarias por muito mais tempo… que a dor era demasiado grande para que consentisses que tudo ta recordasse a cada segundo aqui… intui-o no funeral quando de olhos enxutos, mas com a alma em lágrimas me cingiste nos teus braços como se nada mais te restasse…
Recordo que não consegui arrancar-te uma palavra… só aquele envelope… branco… com duas palavras desenhadas a tinta da china que desde então me assombraram as noites: para ti…
Nunca abri o envelope… nunca li a tua carta… sabia que era uma despedida e não queria ver-te partir… naqueles dias julgava que não conseguiria sobreviver sem ti…
Hoje li a tua carta e contei os meses que desperdicei. Não me deixaste longas palavras, mas teria feito toda a diferença do mundo tê-las lido naquele dia. Escreveste que me amavas. Pediste-me que deixasse tudo para trás e partisse contigo… tê-lo-ia feito sem pestanejar… amei-te todos os dias da minha vida…
Por isso parto hoje ao teu encontro… meses passados… e sei que ainda me esperas, que não me esqueceste… um dia prometeste que me amarias para sempre… e hoje jurei a mim mesma que nunca mais duvidarei de ti…
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