quinta-feira, 19 de julho de 2012
TESTAMENTO DE UM IDOSO COM ALZHEIMER…
Junto com meu testamento,
no qual lego a meus filhos e
amigos a minha vontade de
viver e meu amor a Deus e a
toda a criação, faço um pedido:
Se, por ventura, no meu cérebro
a senilidade penetrar sorrateiramente,
a demência se infiltrar inesperadamente
e o esquecimento, a falta de lucidez e a
confusão se instalarem, por favor,
lembrem que eventualmente, ainda tenho
uma vaga idéia de minha identidade;
Gosto de ser chamada
pelo meu nome, aquele
que meus pais me deram;
Posso ainda saber onde
estou e com quem estou;
Posso estar gostando ou não
de onde estou e com quem estou;
Faço ainda questão de usar
aquele tipo de sapato que
toda a minha vida usei;
Gosto ainda de usar a roupa
ao estilo que sempre preferi;
a roupa dos outros colocada em
mim me entristece;
A falta de atenção em me ajudar
na higiene pessoal me traz ansiedade.
A comida de um estilo que não conheço
não me apetece;
As fraldas de vez em quando me
incomodam e me deixam envergonhada.
Gostaria, às vezes, de caminhar para
espairecer e ver a natureza.
Receber uma palavrinha me faz
lembrar que sou gente;
Receber visitas me faz lembrar que
sou importante, receber um abraço
e um beijo me diz que alguém ainda
tem afeto por mim.
A falta de sono não é proposital,
nem intencional;
A falta de interesse está além do
meu controle; minha falta de jeito
é inexplicável para mim mesma;
O esquecimento me deixa
traumatizada;
Tenho dores que às vezes
não posso contar.
Nem sempre o que me fazem
fazer é o que eu gostaria de
estar fazendo.
Meu olhar vago não reflete
o que sinto.
E se não dou um abraço é porque
os meus braços não me obedecem
mais; se não dou um beijo é porque
meus lábios não sabem mais o que fazer.
Se não te digo que valorizo sua dedicação
e seu amor é porque a ponte se partiu e
perdi o caminho que me levaria a
compartilhar meus sentimentos com você...
Ass: "Um ser humano que Envelhece"
(Lilian Alicke).
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