sábado, 25 de junho de 2011

A saudade é minha dor preferida; é sinal de que a felicidade me visitou.”



“A saudade é minha dor preferida; é sinal de que a felicidade me visitou.”
A frase, é claro, não é minha, e também não sei dizer o nome do autor, a quem peço desculpas pelo lapso de memória, cada vez mais freqüente.
Mas gosto desta frase, talvez porque guardo comigo muitas lembranças, umas até bem recentes, mas que já decidi colocar no passivo. Lembranças que impulsionam o lado da memória onde se guarda a saudade. Hoje é domingo. O primeiro do ano em que a chuva cai prenunciando a chegada do inverno.
Tudo para experimentar uma tarde de introspecção e aproveitar para sentir saudade. Como diz a frase que abre este texto “saudade é dor”, mas não é dor do mal, é dor do bem. Só se sente saudade do que de bom ficou para trás e que nos oportunizou viver momentos de felicidade. Pois é, quem teve a chance de viver experimentou a felicidade. A muito poucos é dado este privilégio de sentir-se feliz. Muitos nem sequer têm consciência de quando estão vivendo seus melhores momentos e há quem não compreenda o que é realmente este estado de graça.
Sentir saudade é a certeza póstuma de que, em algum momento estivemos felizes. Pode ter sido naquele dia que tomamos banho de mar, que corremos atrás de uma bola, que dançamos até a exaustão ou que conhecemos àquela pessoa de quem nunca vamos esquecer, nosso primeiro amor, nosso melhor amigo, o nascimento de um filho, as brincadeiras na infância, entre tantos e tantos momentos de alegria e festa.
Na saudade o coração da gente se rompe, quando alguma coisa fora de nós bate com força e libera as lembranças, como esta chuva que hoje teima em cair provocando sensação de frio e de abandono.
A sensibilidade humana é assim, dicotômica, dual, inquieta e insatisfeita. Quem opta por estar só tem a vantagem de se gerir, de ocupar um espaço que se sabe conquistado a duras penas, mas está sujeito a sentimentos que espreitam silenciosos nos escaninhos escuros da nossa memória. Quase sempre saem para passear nos dias de chuva, nas tardes de domingo, como hoje. E trazem pela mão a saudade e faz a gente sentir aquela dorzinha no peito, o coração apertado. Alguém que se foi para sempre, outro que está indo e que não conseguimos segurar, começa a fazer falta. Tudo o que pensávamos descartados para sempre das nossas vidas nos assombra em determinados momentos. Nossos sonhos desfeitos, as esperanças perdidas as separações inevitáveis. Tudo faz sofrer, mas nada que as boas lembranças não consigam afastar, mesmo porque essas coisas são humanas e provam que temos sentimentos nobres. A saudade é nobre, mesmo que nos torne melancólicos por uma tarde. E, se esta tarde for de um domingo chuvoso e doer na gente é só pensar que amanhã o dia poderá nascer fresco e ensolarado.
Mas tudo isso são “conversas de domingo”...

Maria Alice Guimarães

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