segunda-feira, 1 de agosto de 2011

É necessário ter consciência de que, apesar de muitas vezes estar em um grupo ou ambiente com o qual não se identifica, tolerar tal situação pode servir para alcançar outros estágios.



"Era uma vez uma pata muito mansa que chocava os seus ovos lá para os lados do rio, quase na época da colheita. Num belo dia, como era de se esperar, os ovinhos começaram a se quebrar, e um a um dos filhores foram saindo da casca.
- Eles não são lindos? - gabou-se a mãe pata para uma amiga que a visitava, apesar de um dos ovos ainda estar inteiro.

A amiga, observando este ovo, disse:
- Esse ovo é de peru. Deixe-o de lado, pois perus não podem nadar, você sabia?
Ela sabia, porque já havia tentado uma vez, mas a mãe pata quis insistir:
- Não estou preocupada com isso, mas você sabia que o pato pai destes filhotes sequer
veio aqui me ver?
Afinal, o ovo grande começou a se mexer e um filhotinho, que nada tinha a ver com um filhote de pato, saiu da casca.

A mãe pata contemplou o pequenino e concluiu:
- É, ele é mesmo diferente e feio. Deve ser um filhote de peru.
Depois, mais reflexiva ainda, concluiu:
- É, mas olhando do ângulo certo ele é até bonitinho, e como é um dos meus,
vai ser cuidado como os outros.

E assim, ela o apresentou para as outras criaturas que o criticavam e debochavam dele.
A pata rainha, ao olhar o filhotinho, chamou-o de patinho feio e, juntamente com os outros,
fazia de tudo para importunar o animal.

No princípio, a mãe pata o defendia, mas, com o tempo, até ela desistiu de defendê-lo.
Num certo dia, exasperada, exclamou:
- Como eu queria que você fosse embora! Triste e sentindo-se só, o patinho feio fugiu para o pântano, enfrentou tiros de caçadores e acabou por pousar próximo a um casebre. Ali vivia uma velha esfarrapada, com seu gato desgrenhado e sua galinha vesga. O gato fazia jus a morar com a velha por apanhar camundongos e a galinha por botar ovos.

Contemplando o patinho feio, a velha julgou-se estar com sorte por tê-lo encontrado.
- Talvez seja uma pata para botar ovos e, se não for, podemos comê-lo - pensou.
- Para que você serve se não coloca ovos e não sabe caçar camundongos? - perguntou a velha, intrigada, ao patinho feio.
- O que eu mais gosto de fazer é de ficar debaixo da imensidão do céu ou do frescor azul da água - respondeu prontamente o pato, mas o gato não via nenhum sentido em ficar de baixo d’água e o criticou.

A galinha não via vantagem em ficar com as penas molhadas e também o criticou. Aos poucos, o pato percebeu que ali também não teria paz. Numa noite, saiu do casebre e, caminhando sem rumo, encontrou um laguinho. Dia após dia, o laguinho ficava cada vez mais gelado até que, por fim, congelou-se.

Recolhido, o patinho apreciava o céu quando, repentinamente, um bando de aves sobrevoou o laguinho e, vendo o pato, deram gritos de cumprimento. Admirado, o patinho deu um grito como jamais tinha feito antes. Entretando, aos poucos as aves foram se distanciando. E o patinho ficou com uma marca estranha em seus sentimentos. No escuro e no frio, ficou recordando o alvoroço de tais aves, que o trataram como se fosse alguém importante.

Finalmente, a neve começou a cair e o patinho tinha que nadar constantemente para manter a sua asa sem congelar. Nadava em círculos até se cansar.

Um dia, entretanto, se sentiu preso no gelo e percebeu que iria morrer. Dois patos enormes e fortes, vendo-o congelar, se aproximaram, dando esperança ao patinho feio. Mas, ao contrário do que imaginava, escutou apenas deboches e foi abandonado.

Felizmente um lavrador passou por ali e o salvou. Em casa, seus filhos quiseram brincar com o patinho que, desastrado, caiu dentro de uma jarra de leite e, depois, de um pote de farinha. As crianças riam sem parar, mas a dona da casa expulsou o pato a vassouradas.

O inverso inteiro foi de casa em casa até que o verão se aproximou. Num dia ensolarado, o patinho resolveu dar uma nadada. Sentiu-se muito forte e percebeu que suas asas estavam diferentes – grandes e fortes. Seguro, alçou vôo como nunca tinha feito antes. Lá do alto do céu, avistou um bando de cisnes brancos e belos.

Receoso, pensou:
- Será que eles vão gostar de mim? E se fingirem que gostam de mim e, depois, me abandonarem? Mas, assim que os cisnes o viram, começaram a se aproximar dele. Desolado, ele abaixou a cabeça, esperando os safanões que iria receber, mas vislumbrando-se n’água viu-se belo e forte, como um cisne real.

Percebeu, surpreso, que fazia parte daquele grupo e que seu ovo por engano havia sido chocado por uma pata. Todas as crianças e animais perceberam o novo cisne e saudaram-no felizes."

Muitas vezes, as pessoas sentem que estão no lugar errado, com as pessoas erradas ou um parceiro errado. Outras não têm consciência de que estão no ambiente errado, mas o grupo as percebe como pessoas de fora.



A mensagem básica embutida na narração sobre o patinho feio é de que é necessário que o indivíduo aprenda a perder menos tempo com pessoas que não o querem bem e com atividades que não são prazerosas e que passe a se dedicar a pessoas e atividades em que se sinta valorizado. Mas é necessário que ele tenha consciência de que, apesar de muitas vezes estar em um grupo ou ambiente com o qual não se identifica, tolerar tal situação pode servir para alcançar outros estágios. É necessário, como o patinho feio fez no conto,
aguentar até encontrar a turma certa.

Os personagens da narração e os acontecimentos nela descritos possuem inúmeros significados.

Em geral, nos contos e mitos, quando o personagem principal é um animal com qualidades intrínsecas humanas, ele representa a natureza selvagem do homem.

No conto, o patinho representa esta natureza e está em busca de um território propício para se expressar. Em termos de ambiente de trabalho, por exemplo, buscar o melhor território para expressar talentos e criatividade é a meta de muitos, mas não de todos.

Há aqueles que buscam apenas estabilidade financeira e que são felizes assim. Mas para aqueles que só o financeiro não é suficiente, é necessário resistir, muitas vezes com elegância, os desafios que aparecem. E o patinho feio é excelente referencial disso...

A verdadeira família psíquica (profissional, sexual, afetiva etc) de um indivíduo é fonte de vitalidade e, para muitos, dá a sensação de pertencer ao todo. Atingir esse estágio, entretanto, exige esforço, disciplina e determinação.


A história do patinho feio traz algumas imagens simbólicas que marcam e delimitam esta jornada:

A rejeição da criatura diferente
O patinho feio foi numerosas vezes avaliado por outros animais e considerado feio. Na realidade, ele não era feio, só não combinava com os outros.

Como ele, muitos indivíduos se sentem rejeitados quando passam a pertencer a um determinado grupo, seja familiar, profissional ou de amigos. O que mais dói nestes indivíduos não é a consciência de serem diferentes, mas o fato de serem maltratados por serem considerados diferentes. Sentem-se, e com razão, injustamente maltratados.

Para o indivíduo que se encontra neste estágio, o conflito básico é: "Como posso relevar as minhas questões íntimas e pessoais com as questões externas e sociais?"


Ser mãe de si mesmo
No conto, o patinho feio era defendido por sua mãe, que o protegia e o alimentava. Mas, pouco a pouco, esta proteção foi diminuindo, até que um dia a própria mãe o rejeitou. O aprendizado nessa parte da história é que é necessário que o indivíduo consiga se tornar independente da sua mãe exterior, que pode ser uma chefia, uma empresa ou uma família e que faz papel de guardiã. À medida que o indivíduo avança na vida, entretanto, deve aprender a aquecer-se sozinho, a alimentar-se sozinho e a ser seu próprio guia.


Permanecer no lugar errado
Estar no ambiente errado e com pessoas erradas não é problema. É aprendizado e provação que avaliará a capacidade do indivíduo de saber negociar, ponderar e esperar para avançar. As tribos existentes são numerosas e há lugar para todo tipo de gente. Entretanto, permanecer numa tribo que exige do indivíduo que ele sacrifique a sua alma é estar criando para si uma vida doente. Seja no ambiente de trabalho, na família ou entre amigos, é necessário que o indivíduo saiba que ele não é obrigado a escolher entre responder à sua alma e obedecer a tribo em questão. Ele deve, sempre, responder à sua alma. A questão, portanto, não é querer quebrar as regras ou impor as próprias, mas sim avaliar quais são as regras, proibições e metas aceitáveis.

O aprendizado aqui é:
Deve-se levantar e sair à procura do lugar a que se pertence.


Estar atento às más companhias
Apesar do patinho ainda ser um filhote, a sua capacidade de vagar para encontrar o que almejava estava sempre forte e atuante. Mas, por algumas vezes, o patinho repetiu o erro de bater em portas erradas. Também confiou em pessoas erradas. Como ele, as pessoas podem desenvolver a síndrome do patinho feio e estar, constantemente, em situações em que são maltratadas, pouco valorizadas ou desprezadas.

O aprendizado neste ponto da história é:
Não há portas erradas, mas há portas que fazem com que o indivíduo se sinta proscrito. Estas são as erradas: as mal escolhidas.


A aparência indevida
À medida que a história avança, é possível perceber que o patinho feio foi tomando consciência de que não tinha a imagem certa para determinados grupos. No início, insistiu em querer agradar, mas acabou ficando com a fama de desajeitado, de um atrapalhado que não consegue fazer nada certo. E quanto mais ele insistia, mais as coisas davam errado.
Quantos indivíduos que, como o pato, não passaram por situações profissionais ou afetivas em que todas as atitudes feitas com objetivo de melhorar acabaram estragando mais ainda a situação? Como o patinho, estes indivíduos se esforçam constantemente para serem aceitos e serem bons o suficiente. Ledo engano.
A questão não é agradar, mas se identificar. Quando há uma identificação, a aceitação é natural. Nesse caso, cada um se sente componente do mesmo todo e valoriza o outro por isso.


Permitir-se congelar
Num determinado momento da narração, o patinho feio quase morreu no lago congelado. Como ele, inúmeras pessoas deixam-se congelar. Mas, como no conto, é necessário descongelar a alma, não desistir, pois o gelo paralisa a criatividade, apaga seu fogo. As situações que ajudam um indivíduo a se congelar são várias: comentários maldosos, inveja alheia, falta de oportunidade para se expressar, pouca valorização.
Cabe ao indivíduo fazer como o patinho: nadar em círculos por algum tempo para não deixar água e a suas asas congelarem, mesmo que todo o lago esteja cristalizado. "
(http://www.catho.com.br)

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