quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Encontro das Ilusões


Duas folhas se encontraram certo dia, no caminho das coisas perdidas.
Uma delas, muito verde, contempla a outra, velha e ressequida.
-Quem és tu?
De onde vens?
Que fazes aqui, alquebrada e já sem atrativos, sem beleza, jogada no crepúsculo do dia sem calor, toda feia, carregada de tristeza...
Quem és tu enfim?
- Bem o dizes!
Sou uma pobre folha seca...
Sabes, tenho ainda olhos para teu encanto e tu a formosura.
Tenho ainda ouvidos para tua voz.
E... e tu, quem és tu?
- Não me conheces?
Sou a dona da inspiração dos poetas.
Sou o ornato das florestas, dos campos e das flores. Não sabes?
Sou uma folha verde, viçosa. Trago a esperança do amanhã, a ilusão de uma ventura, o presente de uma vida, a alegria da liberdade, a mudança dos hábitos, o enfeite das convenções...
A velha folha seca sorriu. Sorriu o sorriso da paz, da tranquilidade, de quem já conhece todos os segredos...
E replicou;
- Sim és jovem, bonita, orgulhosa e arrogante. Mas noto que és inexperiente em tua vaidade. Estais todinha vestida de ilusões e o colorido com que pintas o mundo não te permite ver a verdade da vida.
Percebo que o meu corpo já cansado e velho, caminhantes de muitas e longas estradas, aguardam o momento de repousar. Devo dizer-te, contudo, não me leves a mal, que também trago coisas bonitas do passado.
Também fui, com és agora e pretendes ser, o encanto dos salões...
Ouvir juras de amor tornei-me o relicário da felicidade de ternos namorados!
Raios de sol e manhã de primavera. Já contemplei nos píncaros das montanhas ou nas planícies das campinas, nas correntezas dos rios ou nas agonias dos pântanos, vivi a vida abrindo esperanças, cantando alvíssaras, curtindo amarguras, sendo útil a todos...
Vês? Envelheci para os sonhos, e para as fantasias...
Vês? Estou velha, sem forças e preciso de luz e de calor.
Hoje aqui, amanhã, não sei...
Talvez nas páginas amarelecidas dos livros...
Sabes? Desejo que tua velhice seja igual à minha:
Toda cheia de recordações das mais felizes...
A folha verde ouvira. Simplesmente ouvira. Virou-se e partiu...
A folha seca quedou-se sozinha mergulhada em profunda reflexão: Quero que o mundo compreenda e não maltrate a jovem folhinha, tão cheia de orgulho, de fantasia, de caprichos, de ilusões....

Alpheu Tersariol

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