quinta-feira, 2 de abril de 2015
SEMANA SANTA: UM MISTÉRIO DE EXCESSOS
São cinco os excessos:
Primeiro: um excesso de sofrimento humano. Os sofrimentos de Jesus foram de diversos tipos: físico, psicológico, espiritual e moral. Experimentou a solidão, a rejeição, a tribulação. Ele é o pastor ferido que fez a experiência do medo, do abismo e do nada. A maré imunda do pecado penetra a alma de Jesus. Sofreu sob o poder da mentira, da soberba, da astúcia e da atrocidade. Treme, tem suor de sangue, porque sente pavor e angustia. Reza entre brado e lágrimas. Na sua paixão Jesus se lembrou de cada um de nós, por nós sofreu e se entregou. “Ele me amou e se entregou por mim” escreve o Apóstolo Paulo. “Na sua paixão Jesus lembrou-se de mim” (B. Pascal).
Segundo: um excesso de maldade humana. Jesus passou por interrogatórios ilegítimos, falsos. Foi preso, algemado, torturado, além de esbofeteado diante do Sumo Sacerdote. As autoridades são arbitrárias, o Sinédrio e o Império mostram-se instituições decadentes, rejeitam o verdadeiro Messias
A multidão é manobrada, Judas e as falsas testemunhas são compradas, os soldados são sádicos. Jesus sente o horror, a perfídia, a imundície do mal. Crueldade, selvageria, malvadez, atrocidade, desprezo, humilhação, animalidade constituem o “excesso de maldade humana” na paixão do Senhor. Jesus, porém, vence tudo isso com a oração, a entrega ao Pai, a força da Palavra, a serenidade e paz interior. Perdoa os algozes e acolhe o bom ladrão. Eis a escola, a “ciência da cruz”. Jesus vence o poder do mal com o poder do bem.
Terceiro: um excesso de injustiças. Jesus é inocente, passou fazendo o bem, nada fez para o privilegio próprio, elevou os humildes, perdoou os pecadores, promoveu os pobres e excluídos. Foi marcado para morrer porque revelou-se Filho de Deus, e tocou nas chagas e feridas das injustiças humanas. Sofreu oposição, rejeição, abandono e neste contesto de corrupção religiosa e política foi processado, julgado e executado na cruz como malfeitor, perigoso, maldito. Eis o “excesso de injustiça” de ontem que hoje também se repete.
Quarto: um excesso de amor: ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos. Jesus justo e santo carregou nossas culpas e restituiu-nos a inocência. Eis o amor louco, sem medidas, indescritível e incondicional de Deus. Eis o que é o amor aos inimigos, o máximo do amor, o puro amor, que se expressa na doçura, mansidão, paciência, fineza, misericórdia de Jesus.
Quinto: um excesso de transcendência. Na verdade, a paixão de Jesus é uma revelação do amor trinitário para a salvação do mundo. O Pai envia o Filho e o Espírito Santo ajuda Jesus carregar a cruz (cf. Hb. 9,14). Foi na cruz que Jesus se entregou filialmente ao Pai e derramou o Espírito Santo. Deus sofre a dor humana porque ama o mundo e cada pessoa individualmente. Da cruz vem toda luz, toda graça, toda salvação. Os santos meditando diante do crucificado exclamam: “Isso é o amor. É assim que se ama”. Deixem-nos amar pelo amor trinitário.
Dom Orlando Brandes
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