quarta-feira, 6 de abril de 2016

Reza a lenda que, no início dos tempos, o céu e o mar se apaixonaram.


Reza a lenda que, no início dos tempos, o céu e o mar se apaixonaram. Aquele era um amor proibido, já que jamais poderiam se misturar. Desde então eles vem guardando esse sentimento em segredo. Mas, se você reparar bem, ele ainda está lá. A espuma das ondas tentando imitar as nuvens. Essas, por sua vez, dançam como se fossem ondas. E o verde se mistura ao azul. As estrelas cadentes se tornam estrelas do mar. A lua que brilha no céu reflete na superfície da água. E muda a maré. E mergulha quando o sol ameaça chegar. Às vezes eles se irritam com essa distância. E então são raios de saudade cortando o céu e a ressaca do mar que parece descontar nas rochas. As lágrimas de cima despencam lá embaixo. A água que evapora leva um abraço contido. E eu aqui na praia fico imaginando esse amor proibido. Dizem que Deus, em sua infinita bondade, vendo tudo aquilo, permitiu então que existisse um único lugar onde esse amor seria possível. Abriu um sorriso, estalou os dedos e do nada fez-se o tudo. De repente eles podiam se tocar. Finalmente o beijo disfarçado de um grande amor proibido. É o que hoje costumamos chamar de linha do horizonte.
Rafael Magalhães

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