sábado, 22 de outubro de 2011

Que assim seja!


Que seja doce". Aprender a ser miudinha. Aceitar ser grande. Costurar nuvens. Entrelaçar sonhos e fazer uma cortina bonita sempre ao alcance do olho. Tecido azul escuro. Estrelas prateadas. Céu estrelado. Pegar a fantasia mais leve no baú da memória. Vestir-se. Acreditar. Passar os dias. Dormir. Não falar com ninguém. Não sorrir. Pensar em demasia. Não sentir nada. Não escrever. Ler. Sair de nós. Cair nos outros. Dançar em meio aos escombros. Sonhar de olhos abertos. Entorpecer. Silenciar as músicas. Quebrar teorias. Vaguear. Afastar as pessoas com as mãos. Pedir ajuda. Agarrar-se ao colo materno. Enlouquecer. Sair do presente do passado. Contrariar. Confundir. Comer torta de limão com colher de plástico. Esquecer. Trazer à tona coisas adiadas. Sorrir para o espelho. Dizer “eu te amo” pra si. Ajoelhar. Respirar horizontes. Transpirar tranqüilidade. Assistir desenho animado. Ver carneiros através de caixas. Abraçar a tristeza que se sente. Bendizer a felicidade posterior. Olvidar. Esperar a bonança da tempestade. Não pensar. Não ter medo de chorar. Esperar a chuva para merecer o arco-íris. Fugir. Voltar. Ouvir os risos que se riram. Guardar a louça. Fechar o guarda-chuva. Se resfriar. Ficar de cama. Tomar chocolate quente. Colo para colar a cabeça e apenas suspirar. Ouvir a bússola do lado esquerdo. Desobedecer. Enluarar. Roubar tristezas. Restituir alegrias. Não responder. Não entregar. Fazer. Desfazer. Desanuviar. Assobiar. Ter overdose de doçura. Cair na teia do acaso. Rir das desgraças. Chorar das conquistas. Remar. Soltar os remos. Ir à deriva. Tropeçar. Levar nas mãos o brilho do sol. Gargalhar. Irritar. Seguir o caos. Participar da dança dos erros. Amordaçar sentimentos. Roubar o último brigadeiro. Libertar as borboletas. Desistir. Insistir. Adocicar. Cantar. Calar. Pilhar. Pirar. Ser sensata. Caçar vaga-lumes. Sem pausa. Play. Forçar. Descontrair. Desarrumar livros. Jogar fora cartas antigas. Colorir. Desbotar. Remedar para deixar mais bonito. Empilhar cartas de baralho. Estragar. Arrumar a cama. Par de meias listradas. Abrir as janelas. Assistir filme em tailandês. Colocar o despertador atrasado. Enfiar o dedo no bolo. Lamber o glacê. Deletar pessoas. Fazer login. Desdobrar. Romantizar. Poetizar. Fazer cata-ventos. Soprá-los. Dizer sim. Dizer não. Fazer da gentileza uma oração. Com humor seguir. Com mau-humor parar. Em dias felizes embrulhar sorrisos em papel filme. Desembrulhar em dias de chuva interna. Insistir no que é bonito. Economizar vaidades. No lugar da cicatriz colocar um remendo colorido. Perder o norte. O fio da meada. Sofrer. Iludir a vida. Agradecer. Rir. Dulcificar. Acriançar. Endultecer. Inventar palavras quando se quer sentir diferente. Não nomear, às vezes. Transcender. Emanecer. Sobrar bolinhas de sabão. Ler o horóscopo. Não segui-lo. Encher. Esvaziar. Barquinho de papel na mão. Sair. Ficar. Entregar o livro no dia certo. Zombar do trânsito. Perdoar. Fazer tudo que não fiz esse ano. Doar. Não doer. Doer.
Porque o que sinceramente dói não são as palavras que durante todos esses anos ficaram por ser ditas, empilhadas entre o pavor que não gritamos e os sonhos que não transpirei. O que verdadeiramente dói são os silêncios que nunca habitamos do mesmo lado. Porque o silêncio só pode ser partilhado com aqueles que amamos.

Amém!
Oxalá!
Que assim seja!

[Lia Araújo]

Nenhum comentário:

Postar um comentário