Minha casa da infância tem cheiro de bolo assando no forno, de bife fritando, de alho refogado e tem o barulhinho do chiado da panela de pressão. Eu ainda entro na casa dos meus pais e a cozinha está lá, no mesmo lugar, à direita da porta de entrada. Muitas das panelas são as mesmas, assim como os talheres, os armários, a mesa e as cadeiras. E isso é muito reconfortante pra mim. Meu pais moram no mesmo lugar há mais de 40 anos e pouca coisa mudou. Quer dizer, depois que os filhos cresceram e seguiram sua própria trilha, minha mãe foi ocupando os espaços dos quartos, os armários. Uma metamorfose necessária. Mas o quarto dos meus pais continua o mesmo: a cama, as mesas de cabeceira, o porta retratos. É lá, no extremo oposto da cozinha, que também me encontro. Lembro que quando era criança e, por algum motivo, passava mal, minha mãe me colocava para descansar na cama dela. Quando eu encostava a cabeça no travesseiro dela, um cheiro delicioso me invadia: o cheiro da minha mãe. Isso era suficiente para me acalmar. Naquele ninho, eu me recuperava. Anos depois, em muitos momentos da vida, eu me aninhei ali. Fico pensando que um dia a casa estará vazia, com a cozinha e os quartos a espera de mobília nova, de outras histórias. De fato, não é a casa em si que importa, nem as coisas. A vida corre apressada, mas o essencial sempre fica, desde que a gente nunca perca o fio da nossa história. Nem o aroma dos travesseiros.
Fonte facebook
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