domingo, 10 de abril de 2011

De repente sinto medo o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos.



O cigarro, a maçã nas mãos: o tempo colocou na testa uma ruga que antes não havia. De repente sinto medo. Um medo antigo, o mesmo que sentia o menino escondido embaixo da escada, esperando castigos. Um medo e um frio que nascem de alguma zona escondida no cérebro, nas lembranças, nas coisas que o tempo escondeu ao avançar, como se recuando súbito pusesse a descoberto todos os cantos invisíveis, todas as teias de aranha recobrindo velhos muros, os mesmos que tantas vezes tentei escalar sem que houvesse nada depois, nenhum caminho, nenhuma casa. Nada.

Caio Fernando Abreu

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