sexta-feira, 15 de julho de 2011

A gente vive de fases. Pode reparar: tudo o que fazemos é dividido pelas danadas.Mas o melhor de tudo é que elas passam.



A gente vive de fases. Pode reparar: tudo o que fazemos é dividido pelas danadas. Todo mundo tem as suas, nas mais diferentes áreas da existência: Picasso teve lá os seus períodos azul, rosa, negro e cubista. Madonna, então, é uma verdadeira mulher de fases – se esbaldou como material girl, virou diva pop, encarnou uma espécie de dominatrix erótica e agora é mamãe e escritora. Tio Hitch, o cineasta que forjou o suspense, também teve sua obra separada em fase inglesa e americana.

Se formos falar nas fases da vida, então... é assunto para mais de metro. No olhar biológico, temos o famoso “nasce-crese-se reproduz-e-morre” (exceto para formas de vida especiais, como o Sêo Silvio, que nunca vai chegar na fase final). Para Freud, passamos, entre outras, pela fases oral, anal e genital (imagina o susto do povo ao ler tais palavras associadas às rosadas carinhas infantis dos finais do século 19).

Deixando as visões científicas de lado, há ainda as fases mais prosaicas no nosso dia-a-dia.

- Ei, vamos ao cinema?
- Acho que não. Estou numa fase de buscar meu eu interior.
- Seu namorado deu linha na pipa?
- Er... é.

Até a Bíblia, quem diria, já sacou e registrou essa característica inata ao funcionamento humano. O terceiro capítulo do Eclesiastes, no Antigo Testamento, versa sobre a existência de um tempo para que cada coisa aconteça sob os céus: há tempo de nascer e de morrer; tempo de plantar e de colher, tempo de construir e de derrubar; tempo de guerra e tempo de paz.

Trocando em miúdos, o que eles queriam dizer é que a vida segue em alternância de fases. É mais ou menos como na sua casa, onde a geladeira enche e esvazia em períodos alternados; suas flores vicejam lindas por um tempo e, de repente, todos os seus bolos encruam; o humor da sua irmã adolescente fica melhor (e pela manhã ela usa o banheiro rapidinho, pensando em você) ou nem tanto (e ela passa horas dentro do cubículo – sendo que, colado à porta, você ouve muito bem que ela está mesmo é falando no celular). Será a lua?

Aliás, taí outra coisa de fases: a lua. O pobre satélite ainda é responsabilizado pelas mudanças de humores dos seres humanos. Diz que não se pode cortar cabelo na lua minguante ou nova, senão ele demora a crescer. O certo é passar a tesoura quando no céu se estampa uma bela crescente.

Se eu fosse prestar atenção a isso, marcaria horário só na lua minguante. Você não tem idéia do quanto um cabelo curto parece espichar da noite para o dia. Ele cresce como se não houvesse amanhã – coisa que, é claro, minhas madeixas não faziam quando eu queria de fato ter cabelos longos.

Pois é. Hoje eu ostento um penteado de mechas bem tosadas e meio despenteadas. Mas já tive minha fase de cabelão. Foi mais ou menos ao mesmo tempo em que vivi minha fase grunge – que pelo menos passou mais rápido que meus outros períodos musicais, bem mais embaraçosos. Tipo a fase Menudo, registrada em uma porção de fotos.

Como se não bastasse, enquanto musicalmente eu venerava os cinco guapos de Porto Rico, minha fase capilar era ainda pior e tomava a forma de um repicado horroroso. Preferia ter tido uma “fase azul”. Soaria bem melhor que “fase menudo”, não? Pois então: fases são legais, sim. Mais que isso, são indispensáveis, e ainda podem ser bem divertidas. Mas o melhor de tudo é que elas passam.


(Clara McFly)

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