sábado, 1 de outubro de 2011

Às vezes quase me esqueço de como vives em mim…



Às vezes quase me esqueço de como vives em mim…
durante o sono sinto de novo o teu corpo procurando o meu.
Deixo-me ficar quieto, abro as mãos, toco-te – quando a tua voz me sacode. Encolho-me e escuto em mim:

- Trago-te o mar, as nuvens
que só as crianças sonham a vermelho. Trago-te a terra que te transformou em húmus e a seiva morna das árvores, a dor que a vida faz a latejar no pulso dos homens sozinhos... e o tempo, essa doença dos vivos eternizou-nos. Noite após noite, falo-te, amo-te sem que o saibas. Posso tocar-te sem sentires sequer a minha presença. Posso estar, sem estar. Trago a cinza das horas nos cabelos e os dias da paixão onde não há dias nenhuns.

Trago-te as palavras,


e este cigarro que fumaremos os dois... e do mar recolhi esta coroa de rubras escamas e o silêncio dos náufragos... uma concha,

um punhado de sal e a moeda de ouro que te enterro na boca antes de prosseguires viagem.

O dia vem lentamente na incandescência de um fio de poeira suspensa. Atravessa o quarto vazio, acende-te o rosto.

Abro um pouco a boca e deixo cair a moeda de ouro. Nos meus olhos descobrirás como é grande a tristeza do mundo.
Lá fora é outra vez verão

Al Berto

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