Tenho uma amiga que quando percebe que eu estou
triste costuma me perguntar quem roubou a minha caixa
de lápis de cor. Tem vez que nem pergunta, apenas comenta:
“poxa, dessa vez levaram as cores que você mais gosta!”
A tristeza afrouxa um pouco, por mais que eu esteja chateada.
Primeiro, porque é muito bom a gente se sentir olhado com carinho. Depois, porque essa expressão tem uma inocência
capaz de fazer gente grande tocar em coisas sérias sem ficar
com medo de queimar a mão. De vez em quando, ao ouvir a pergunta, acontece de uma lágrima ou outra escapulir, afeitos
que alguns sentimentos são a desaguar no rosto quando o coração fica apertado. Mas, algumas vezes, quando eu choro diante dessa indagação não é pelas cores que não encontro
na caixa nem por lembrar de quem supostamente as roubou. Choro por perceber que ainda dou aos outros o poder de
roubá-las. Por notar que, no fim das contas, quem rouba os
meus lápis de cor preferidos sou eu.Então enxugo essa lágrima sabendo que a única que posso restituir as cores sou eu mesma
Ana Jácomo
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