sábado, 29 de maio de 2010

Cyber AmoR por Mim!!

— oi... podemos tc?
— sim... pq nao?
— qual o seu nome?
— e o seu?
— em q cidade esta?
— puxa, pena q e longe...
— isso n importa
— ah q bom
— tem namorado?
— não, e vc?
(...)
E assim nascem os amores desse tempo.

Geridos e inspirados por teclas e letras.
Sem cheiro. Sem sabor.
Construídos sobre projeções de desejos inconscientes em vez de o encantamento surgir naturalmente... por um olhar, um sorriso cativante... um toque.... ou mesmo a essência de um perfume ou qualquer magnetismo procedente de nossos sentidos.
A tecla ganhou o lugar do toque... a letra, o da emoção... os sorrisos acontecem plasticamente emoldurados por telas iluminadas.
Há até quem prometa o famoso "seremos felizes para sempre" sem nunca ter visto pessoalmente quem recebe a promessa... E jura não estar fingindo!
Há aqueles que dizem nunca ter amado como estão amando o enamorado que apareceu de repente — num chat, naturalmente!
Tem gente que briga porque entendeu que a vírgula era um ponto reticente...
Há também quem guarde mágoa, pois o amigo rapidamente sumiu de sua frente sem escrever um "ausente", pois se importa somente com a vida na tela, ignorando que a vida real é atrás dela — a tela!
Há ainda os observadores de plantão, que se alimentam da investigação, dando conta da vida alheia, sem se dar conta que a sua própria passa longe da realidade.
Outros perderam o prazer pelo sexo real.
Então a pele, o toque, o calor passaram a ser irrelevantes.
Viciam-se e adoecem absortos em fantasias e mais fantasias que acabam na sempre na mesma: ausência, frustração...
Enquanto isso, suas esposas dormem sós, à espera daquele que agora ama outra, a perfeita... criada conforme a imagem e semelhança de sua imaginação na tela de um monitor.
Meninas e mulheres maduras até... iludidas se sentem princesas...
Mas seus príncipes não chegam mais em cavalos, como nos contos de fadas.
Chegam montados em @@ e mensagens virtuais.


Pessoas viram personas, e agora podem ser o que quiserem ou o que desejam dizer que são.
Ludibriam passando-se por "objeto do sonho esperado" de quem está do outro lado... enquanto adoecem na própria mentira.
Até pesquisam gostos e desejos para poderem conquistar mais rapidamente o objeto de seu desejo.
Não é à toa que assim como iniciam as paixões virtuais de forma arrebatadora, também acabam da mesma forma.
Não têm a chance de se tornarem sólidas... não têm consistência, pois nascem da imaginação de quem as constrói.


E um ponto no lugar errado e na hora errada muda o seu destino, pois a imagem perfeita criada desfaz-se como uma nuvem passageira.
Por outro lado, acontecem as que viram realidade e se concretizam, levando até mesmo a um compromisso duradouro...
Mas são raros os casos — ainda são minoria considerando-se a imensa quantidade de envolvimentos virtuais que acontecem a cada dia.
Para esta possibilidade é necessária uma disposição de alma que carregue sinceridade, verdade e fuja das projeções.
Os casos de fobia social, depressão, baixa auto-estima ou falta de amor próprio e toda sorte de doenças psicossomáticas só aumentam.
E junto com eles aumentam as angústias de quem tenta ser quem não é e se mantém assim para sustentar a fantasia criada.
Dentre toda essa realidade emocional-virtual, o amor verdadeiro e concreto se dissolve.
Perde espaço para a fantasia que não gera amor consistente, pois parte das construções egoístas.
É certo que a Internet trouxe e continua a trazer a cada dia milhares de benefícios para quem a utiliza.
O mundo ficou menor: cabe numa tela.
Distâncias vencem as barreiras reais na virtualidade.
As amizades se tornam mais presentes e compartilhadoras...
E poderíamos enumerar aqui centenas de outros benefícios.
Mas e o amor?
O amor construído pelo convívio, que o faz amadurecer, solidificar?
E o magnetismo do olhar?
O cheiro da pele?
As sintonias concretas?
Penso que devemos considerar para onde caminhamos, e a despeito de usufruirmos os benefícios da vida cibernética, que saibamos proteger as emoções e o coração das armadilhas da virtualidade, priorizando sempre os encontros que se dão pelos sentidos reais.
E caso eles venham a se dar na virtualidade, que existam pactos de verdadeira honestidade e transparência.
É só o amor que conhece o que é verdade!
Que ele nunca seja substituído da vida real por uma virtualidade irreal que a cada dia facilita ilusões e construções produzidas pela imaginação.


Vale a pena pensar sobre isso!
Ana D´Araújo
Psicoterapeuta Clínica

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