quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quem não gosta de permanecer jovem?



Quem não gosta de permanecer jovem?
Ser jovem é amar a vida,
cantar a vida,
abraçar a vida,
perdoando até as pedras
que a vida nos joga em rosto.
Ser jovem é ter altos e baixos,
entusiasmos e desalentos.
É vibrar com os momentos bons
e passar por cima do que nos machuca,
com um sorriso fácil apagando os percalços.
Ser jovem é apiedar-se dos mais fracos,
não ter vergonha de fazer um sinal da cruz em público,
cantarolar uma canção em pleno ônibus.
E apreciar uma piada gostosa.
Ser jovem é escrever diário, às vezes.
Copiar poesias de amor e remetê-las ao namorado,
à namorada, com assinatura própria.
Ser jovem é compadecer-se de quem sofre,
com aquela vontade imensa de fazer o milagre da cura,
de restituir a saúde àqueles que a gente estima e ama.
Ser jovem é beber um lindo pôr-do- sol,
ar livre e noites estreladas.
Não se intrometer na vida alheia,
fazer silêncios impossíveis,
ficar ao lado das crianças,
gostar de leitura,
ter ódio de guerra
e de ser manipulado.
Ser jovem é Ter olhos molhados de esperança
e adormecer com problemas,
na certeza de que a solução
madrugará no dia seguinte.
Ser jovem é amar a simplicidade, o vento,
o perfume das flores, o canto dos pássaros.
Ter alegria ao dramático, ao solene.
E duvidar das palavras.
Ser jovem é vibrar um gol do time,
jogar na loteria esportiva,
emocionar-se com filmes de ternura
e simpatizar secretamente com alguém
que a gente viu só de passagem.
Ser jovem é planejar praias no fim do ano,
sonhar com um giro pela Europa
e uma esticada pela Disneylândia... algum dia.
Ser jovem é sentir-se
um pouco embaraçado diante de estranhos,
não perder o hábito de encabular,
tremer diante de um exame
e detestar gente gritona
e resmunguenta.
Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama,
caminhar na chuva, iniciar cursos de inglês e violão,
sem jamais terminá-los.
Ser jovem é não dar bola ao que dizem e pensam da gente.
Mas irritar-se,
quando distorcem nossas melhores intenções.
Ser jovem é aquele desejo de fazer parar o relógio,
quando o encontro é feliz,
quando a companhia é agradável
e a ventura toma conta do nosso ser.
Ser jovem é caminhar firme no chão,
à luz dalguma estrela distante.
Ser jovem é avançar de encontro à morte,
sem medo da sepultura e do que vem depois.
Ser jovem é permanecer descobrindo, amando, servindo,
sem nunca fazer distinção de pessoas.
Ser jovem é olhar a vida de frente, bem nos olhos,
saudando cada novo dia, como presente de Deus.
Ser jovem é realimentar o entusiasmo, o sorriso,
a esperança, a alegria, a cada amanhecer...
Ser jovem é acreditar um pouco na imortalidade, em vida.
É querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível.
Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.
É só pensar na morte, de vez em quando.
É não saber nada e poder tudo.
Ser jovem é gostar de dormir e crer na mudança.
É meter o dedo no bolo e lamber o glacê.
É cantar fora do tom, mastigando depressa,
mas engolir devagar a fala do avô.
Ser jovem é embrulhar as fossas no celofane do não faz mal.
É crer no que não vale a pena ,
mas ai da vida se não fosse assim.
Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que se tenha,
trinta, quarenta, cinqüenta, sessenta, setenta ou dezenove.
É sempre abrir a porta com emoção.
É abraçar esquinas, mundos, luzes, flores, livros,
discos, cachorros e a menininha, com um profundo,
aberto e incomensurável abraço feito de festa,
dentes brancos e tímidos, todos prontos
para os desencontros da vida.
Com uma profunda e permanente vontade de ser.


Artur da Távola

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