Tudo pode dar certo e tudo pode dar errado,
e a idade nada tem a ver com isso,
é apenas um detalhe na certidão de nascimento.
O que transforma nossa vida amorosa num melodrama é a diferença de necessidades.
Aí não há casal que encontre seu ponto de apoio,
seu eixo e seu futuro.
Um quer compromisso sério: para o outro, amar já é sério o suficiente. Um quer filhos, o outro nem em sonhos.
Um quer uma casinha no meio do mato, o outro é curioso, precisa de informação, cinema, teatro, gente.
Um valoriza a transa antes de tudo, o outro acha que conversar é importante também.
Ao menos, os dois gostam de dançar.
Um quer se sentir o centro do universo, o outro quer incluí-lo no seu amplo universo.
Um quer fugir da solidão, o outro aceita a solidão.
Um não quer falar de suas dores, o outro pergunta demais. Um briga por amor, o outro silencia por amor.
Os dois se amam, isso não se discute.
Um não precisa conhecer o mundo,
o outro traz o mundo em si.
Um é romântico para disfarçar a brutalidade,
o outro é doce para despistar a secura.
Um quer muito de tudo,
o outro se contenta com o mínimo essencial.
Nenhum dos dois liga pra dinheiro, mas o dinheiro quase sempre está no bolso de quem viveu mais.
Um fica inseguro, o outro diz que nada disso importa,
mas claro que importa.
Um quer que lhe deem atenção 24 horas,
o outro precisa que o esqueçam por uns instantes.
Um quer aproveitar cada réstia de sol,
o outro gostaria de dormir um pouco mais.
Um gostaria de saber o que não sabe, o outro queria desaprender metade do que a vida lhe ensinou.
Um precisa berrar, o outro chora.
Um quer ir embora e, ao mesmo tempo, não.
O outro quer liberdade, mas a dois.
Então um se vai e deita em todas as camas, sofrendo.
E o outro mergulha sozinho na dor, sobrevivendo.
Diferença de idade não existe.
A necessidade secreta de cada um é que destrói ilusões e constrói o que está por vir.
Martha Medeiros
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