segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Leva a chave para o caso de querer voltar...

Quer ir? Vai.
Eu não vou segurar.
Uma coisa que não dá certo é segurar uma pessoa contra a vontade, apelar pro lado emocional.
De um jeito ou de outro isso vira contra a gente mais tarde:
não fui porque você não deixou, ou: não fui porque você chorou.
Sabe, existem umas harmonias em que é bom a gente não mexer.
Estraga a música.
Tem a hora dos violinos e tem a hora dos tambores.

Eu compreendo, compreendo perfeitamente.
Olha, e até admito: você muda pra melhor.
Fora de brincadeira, acho mesmo.
Eu sei das minhas limitações, pensei muito nisso quando tava tentando te entender.
É, é um defeito meu, considerar as pessoas em primeiro lugar.
Concordo.
Mas não tem mais jeito, eu sou assim. Paciência.

Sabe por que eu digo que você muda pra melhor?
Ele faz tanta coisa melhor do que eu! Verdade.
Tanta coisa que eu não aprendi por falta de tempo, de oportunidade – ora, pra que ficar me justificando? Não aprendi por falta de jeito, de talento, essa é que é a verdade.
Eu sei ver as qualidades de uma pessoa, mesmo quando é um homem que vai roubar minha namorada. Roubar não: ganhar.

Vai.
Ele é moderno, decidido.
Num restaurante não te oferece primeiro a cadeira, não observa se você tá servida, não oferece mais vinho. Combina, não é?, com um tipo de feminismo.
A mulher que se sente, peça o que quiser, sirva-se, chame o garçom quando precisar.
Também não procura saber se você tá satisfeita.
Eu sei que é assim que se usa agora.
Até no amor.
Já eu sou meio antigo, ultrapassado, gosto de umas cortesias.

Também não vou dizer que ele é melhor do que eu em tudo. Isso não.
Eu sei por exemplo uns poemas de cor.
Li alguns livros, sei fazer papagaio de papel,
posso cozinhar uns dois ou três pratos com categoria, tenho certa paciência pra ouvir,
sei uma ótima massagem pra dor nas costas,
mastigo de boca fechada,
levo jeito com crianças,
conheço umas orquídeas,
tenho facilidade pra descobrir onde colocar umas carícias,
minhas camisas são lindas,
sei umas coisas de cinema,
não bato em mulher.
E não sou rancoroso.

Leva a chave para o caso de querer voltar...
[ Ivan Ângelo - O ladrão de sonhos e outras histórias ]

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