sábado, 26 de maio de 2012

Pilantra. É assim que ele me chama.

 
Pilantra. É assim que ele me chama. Ainda diz que tenho uma maldade adormecida no canto da boca, uma bondade forçada no meu jeito de falar. Mas que meus olhos não enganam.
Você é pilantra! – Diz e dá uma risada, quase um grito de raiva. Porque na verdade ele fica esperando que eu vomite toda a minha fúria e meu veneno bem guardado. Dou as costas e peço pra me deixar em paz, e só.
É só isso que sei fazer, eu dou às costas pro mundo. Não fico pra ver no que a merda toda vai dar, eu quero mesmo é sossego, que se danem se as opiniões são diferentes, não estou aqui pra provar nada. Não compro briga e quando compro é sempre sem querer. Quando alguma coisa em mim falha, acabo dando ouvidos à cobra venenosa tatuada nas minhas costas, e não ao meu bom senso.
Acha que não dou risada das piadas mal contadas de propósito. Porque não dou risada nem das boas. Alguma coisa por trás do meu estômago enjoado até acha graça. Mas a gastrite breca o riso, e eu fico quieta. Não sei o que mais irrita em mim: Não rir nunca na hora que alguém precisa da tua risada, ou dar risada na graça à toa do mundo, quando ninguém está contando nenhuma piada.
O que eu não quero, é perder meu tempo. Pra discutir e ter que fazer as pazes. Deixa a vida levar com ela meu grito, meu impulso. Deixa pra lá.
Mas ele insiste que sou pilantra. Que bagunço a casa e a vida das pessoas de mansinho. Que procuro os espaços mais estreitos pra me enfiar, ficar por lá, mastigando alguém. Que é tudo de propósito, tudo máquina, tudo milimetricamente desenhado, ensaiado, executado com cuidado.
Eu poderia sentar e fazer com ele o que eu nunca fiz – e nem farei – com mais ninguém. Explicar o porque desta coisa toda que parece engasgada em mim, esse negócio de parecer que tenho tinta no cabelo e uso óculos só pra disfarçar. Mas não. Eu dou as costas mais uma vez, ele dá seus gritos e risadas odiosas. Hoje eu não conto, me deixa em paz.
Camila Heloíse

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