terça-feira, 19 de janeiro de 2010

FIM



Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço.

Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente.

É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto.

E, de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo.

É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível.

É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro pra não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, com tanto esforço.

E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse.

Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado:

muda-se a auto-imagem,

alegrias ficam suspensas,

sonhos desaparecem por um tempo

e nenhuma cor na paisagem.

O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.

Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja

um propósito,

uma crença,

um valor íntimo,

uma obstinação qualquer
que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa.

É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza.

E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas:

perde-se também

a ansiedade,

a insegurança e

a ilusão.

E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas...

Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:

“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”

Marla de Queiroz

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