sábado, 16 de janeiro de 2010



A linguagem é uma pele: esfrego a minha linguagem no outro. é como se eu tivesse palavras ao invés de dedos, ou dedos na ponta das palavras. minha linguagem treme de desejo. é o que eu tenho, a linguagem. e o desejo. ela vai mais longe que eu. vai onde não consigo ir, porque é plástica, extensível. porque é anódina. porque não sou eu, nem minha pele. são símbolos gráficos que significam muito. ou também podem não significar nada. a linguagem tem a importância que damos a ela. os significados que emprestamos aos discursos, aos textos. ao que dizemos com palavras. sinto-me confortável aqui, do lado de cá da linguagem. porque posso dizer tudo e dizer que não disse nada. porque sei que lês apenas o que queres. porque esfrego a minha linguagem na tua pele. há uma couraça impenetrável entre as minhas palavras e o teu corpo. e muitas vezes penso que tu também és parte do meu discurso. que só existes aí, na linguagem. que é o meu texto quem te profere. e a tua pele é uma miragem. e esfrego a minha linguagem no vazio. e desisto de provar a tua existência.

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