quinta-feira, 17 de março de 2011

O amor engana sua força. Quem pensa que está fora do amor entra. Quem pensa que está dentro sai.



O amor engana sua força. Sobrepõe a memória dos sentimentos à memória dos fatos.
É procurar cabelos para completar as mãos; é procurar o que não se viveu para contar.
É esperar o sol aquecer o lado ileso da cama.
É não apagar direito a ausência, a letra.
Não há descrição fiel que possa explicá-lo.
Adiar o amor é ainda cumpri-lo.
Fingir que não se sente é exercê-lo.
Desdenhar é elogiar.
Ofender é abrir guarda.
Odiar é desesperar o atraso.
O amor devora os sobreviventes.
O amor não lembra do que precisa.
Amor é não precisar de nada.
É precisar do que acontece depois do nada, ainda que não aconteça.
A fraqueza é força física; o endereço, genealogia.
O amor complica para manter o mistério. Perde-se no próprio amor a capacidade de amar.
Quanto mais violento o primeiro amor, mais difícil será o segundo amor.
Quanto mais violento o último amor, mais calmo foi o primeiro amor.
As frutas postas na mesa não estão à espera da fome; ainda estão à espera da árvore. Amor é comer a fruta do chão. O chão da fruta.
O amor queima os papéis, os compromissos, os telefones onde havia nomes.
O amor não se demora em versos, demora-se no assobio do que poderia ser um verso.
Quem pensa que está fora do amor entra.
Quem pensa que está dentro sai.

Fabricio Carpinejar -

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