segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Desilusões...
"... Todos desapareceram e não deixaram nada, e não deixaram sequer o pequeno nada que existe dentro do nada. Não deixaram sequer os cemitérios inteiros de mortos, pois todos eles desapareceram ainda mais de tudo, todos eles morreram a sua segunda morte, ainda mais definitiva. A voz que está fechada dentro de uma arca calou-se para sempre e, das suas palavras, nem o sentido, nem o silêncio subsistiu. O homem que está fechado dentro de um quarto sem janelas a escrever parou de repente a meio de uma frase e o fim, para ele, foi a tinta que desapareceu das páginas que tinha vivido, foram as folhas de papel que fugiram de si próprias e se tornaram o mais absoluto vazio de tudo, foi a memória que se transformou nem sequer em ar, nem sequer em vento..."
"É a desilusão cada vez mais um sentimento nobre?
Destinada apenas aos que confiam,acreditam,persistem,lutam,amam e se expressam nas milhentas formas de solidariedade social para com o próximo?
Amizade ou Amor……que traições,trapaças,mentiras…sentimos como mais fortes?
Desilude-me sentir que nem sempre procuramos o melhor dentro de nós, a melhor forma de ser, de sentir, de agir, de reagir, de viver….e já nem falo da “justa forma”,mas da melhor….mesmo que seja melhor só para nós….
Desilude-me vivenciar o não ser….o não estar….quando….se devia ser….se devia estar…..
Desilude-me acreditar que o amanhã vai ser diferente….quando o hoje já é o amanhã e nada mudou….
Desiludes-me…e eu desiludo-me por me iludir contigo…."
Cristina Fonseca in Elogio do Silêncio
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