domingo, 19 de setembro de 2010

Passageiro sombrio




Alguns dias atrás eu estava dirigido por algumas ruas escuras, e avistei uma figura esquisita que pedia carona, prontamente parei meu carro, ele entrou abrindo largo sorriso…

Parecia que eu conhecia esse cara já havia anos, ele não era muito de falar, apenas perguntou se eu poderia deixa-lo em sua casa, eu balancei a cabeça afirmando que sim, e começamos nossa viagem.

Eu lhe falava de coisas que afligiam meu coração, e ele não soltava nenhuma palavra, confesso que fiquei até nervoso e intrigado, quem era ele afinal? E por que eu ofereci carona para um desconhecido?

Alguma coisa dizia que eu o conhecia, entretanto, já estava cansado do meu monologo solitário, a estrada começava ficar infinita, e surpreendentemente o passageiro incógnito bate no meu ombro e sussurra:

- Ei, a partir daqui eu assumo, pare o carro neste acostamento…

E eu assustado respondo:

- Tudo bem, eu já estou cansado de dirigir, e prontamente entreguei a chave do carro para aquele homem enigmático, será que ele sabe dirigi? Posso confiar nessa pessoa?

A principio, ele dirigia com presteza e com muita prudência, porém, durante o trajeto começou a ultrapassar os outros veículos pela direita, corria feito um louco, confesso que naquele momento fiquei com medo, e não tive coragem de pedir para que ele parasse o carro.

E sorrateiramente o silêncio foi quebrado pelos seus sussurros.

Ele contava histórias bizarras, sempre com fins genuinamente infelizes, eu ouvia tudo aquilo com o coração partido, tudo parecia tão familiar.

Não mencionava nomes, apenas suas atitudes, meu passageiro iniciou uma intensa verbosidade sem fim, contava que tinha enviado flores para alguém, era sua paixão errante, e finalizou dizendo que aquelas flores eram para salientar seus devaneios por esse alguém, e que grande arrependimento tomava seu coração, pois aquele ato falho o deixou constrangido e envergonhado perante as pessoas.

Olhando em seus olhos sabia que aquelas rosas, não tinham nenhum significado para ninguém, eram rosas tristes, e suas respostas e expectativas já eram sabidas, aquele alguém não queria vínculos com o meu estimado passageiro, naquele momento ele chorou, e disse:

- Nunca mande flores para amores que nasceram mortos, não seja teimoso, e nem perseverante, algumas vidas nunca se cruzam, é ilusão se apaixonar por afinidades, espero que um dia você entenda essa nossa conversa.

Ele continuava contando suas paixões platônicas e do seu fascínio por flores.

Novamente o silêncio caía subitamente em meu carro, e começava a reconhecer aquelas ruas, parecia que eu estava chegando à minha casa, e uma pergunta começava a pairar em minha mente, será que o passageiro era meu vizinho?

Quando abri melhor os meus olhos cansados e míopes, percebi que estava no meu quarto, quem era aquele cara estranho?

Logo percebi que se tratava do passageiro sombrio, e ele era eu, eu era ele, algumas vezes eu não me dava conta, e deixava-o pegar o volante, permitia que ele fosse impulsivo, não conseguia controla-lo, ele gostava da minha companhia, assim como eu gostava da dele.

Meu doce passageiro sombrio, fiel e romântico; essas sórdidas rosas vermelhas eu dedico a você.

Autor: Gustavo Rugila

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