terça-feira, 28 de setembro de 2010

RIR COM O CÉREBRO



Abra uma revista feminina e estarão lá todas as dicas para a felicidade eterna: como fazer um casamento durar, como relacionar-se bem com seu chefe, como manter uma amizade, etc, etc. Quem leu uma reportagem leu todas: elas são unânimes em dizer que é fácil descomplicar a vida. Será?

Existe, sim, uma maneira de dar alívio imediato para as agruras da nossa sacrossanta rotina. Anote aí a palavra mágica: humor.
Nada de novo no front. A maioria das pessoas sabe que o humor é o melhor paliativo para o caos emocional em que vivemos. Só que não funciona para todos: um grande contador de piadas não é, necessariamente, feliz. Humor nada tem a ver com palhaçada. Não é preciso mostrar todos os dentes.

Humor é uma maneira de enxergar o mundo. E o olhar irônico, crítico e, por vezes, benevolente de quem sabe que nada deve ser levado demasiadamente a sério.

Quantas vezes você viu Woody Allen gargalhar? E Paulo Francis, Millôr, Verissimo? Ri melhor quem ri com o cérebro. Muita gente se queixou dos comentários de Arnaldo Jabor na entrega do Oscar. A troco? Por que ele deveria reverenciar um glamour que acha careta, por que deveria calar diante da magnificência da festa? Billy Cristal zombou de tudo e de todos, mas dentro do script. Jabor fez apenas o papel de Jabor: ácido, independente e do contra. O mau humor também pode ser engraçado, e vale lembrar que todo humor é transgressor.

O estresse não compensa. Você gastou uma fortuna num vestido e, quando vai estreá-lo, dá de cara com um par de vaso. Seu marido disse que ia chegar às oito, mas chegou às dez. Sua mãe disse que iria buscar os ingressos do teatro, mas esqueceu. O hóspede que iria ficar só dois dias já está dando ordens para a empregada. Você é entrevistado por alguém que lhe chama o tempo inteiro de Fernanda, e você é Sílvia desde criancinha. O cachorro da sua amiga apaixonou-se perdidamente por sua perna. O pão acabou justo na hora do café. Sua meia-calça desfiou. Seu
vôo atrasou. Seu cheque voltou. Ou você passa a ter mania de perseguição ou releva. Depende você sabe do quê.

Se você ainda não está totalmente convencida, pense em como faz falta o humor na vida de Itamar Franco e como sobra na de Rubinho Barrichello.

Repare como aqueles que relativizam as derrotas têm menos rugas. Pense que, enquanto você controla horário de marido, arruma briga com o zelador e excomunga meio mundo porque sua unha quebrou, tem gente cuja filha foi metralhada na porta do colégio ou cujo pai dorme na rua em busca de uma senha para conseguir atendimento médico. Assovie.

O que as revistas femininas deveriam receitar é: não acredite em tudo o
que ouve. Nem em tudo o que diz. Suspenda a descrença quando quiser
prazer. Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada,
mas não certinha. Faça coisas que nunca imaginou antes. Não minta, nem
conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando.

Divirta-se enquanto seu lobo não vem.

Um texto ótimo da Martha Medeiros.

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