terça-feira, 28 de dezembro de 2010

MUITA APARÊNCIA PARA BEM POUCA CONSISTÊNCIA!



Praticamente impossível não surgir ao menos um assunto incluindo o tema “relacionamentos” numa rodinha de bate-papo, seja entre homens, mulheres ou os dois juntos.

É de praxe falar sobre um casal conhecido, a própria relação ou sobre casos ouvidos. Ou seja, a grande maioria das pessoas sempre tem uma opinião, uma história ou uma experiência vivida que inclui afecto, amor, paixão e todos os sentimentos conseqüentes.

Acontece que, cada vez mais, tenho tido a impressão de que o que se fala não é exatamente o que se sente. Ou melhor, a maneira com que se tem falado das situações que envolvem o coração é bem destoante do modo com que se tem vivido os sentimentos.

A meu ver, temos maquiado nossas palavras e colocações a fim de mostrá-las seguras, cheias de certezas, tão certas a ponto de tornarem-se inflexíveis, ao menos aparentemente. Parece-me que estamos convencidos de que precisamos provar que temos uma autoconfiança e uma auto-estima imbatíveis, indestrutíveis, sobre-humanas talvez...

Mas estou certa de que a realidade não é bem essa! Na solidão de cada quarto, no consolo de um ombro amigo, nas confissões feitas nos divãs e até na busca esperançosa nos templos, igrejas e orações, fica evidente que há bem pouca consistência nesta aparente perfeição.

Mais do que isso, a fragilidade e os intermináveis questionamentos que rondam tantos corações estão gritando em cada relação vivida e até mesmo naquelas não-vividas. A carência, o medo de sofrer, dúvidas sobre o que fazer e como agir revelam o quanto o ego de tanta gente está bem maior do que sua consciência.

Por quê? É... também me faço esta pergunta e não a encontro em absoluto, pois felizmente não sou dona da verdade, mas suponho que elas têm tentado – a todo custo – tão somente se defender. Entretanto, de tão defendidas, de tão cheias de couraças, escudos e máscaras, terminam subjugando sua essência e, portanto, se distanciando daquilo que realmente sentem.

Creio que a autopercepção seja um bom primeiro passo. Observarmos aquilo que estamos dizendo, pensando ou fazendo é uma maneira eficiente de constatarmos o quanto nossas palavras têm estado desafinadas com o que carregamos no peito.

Frases carregadas de prepotência, do tipo “eu sou assim e pronto”, “se quiser, ele (ou ela) que mude de idéia”, “ninguém vai mandar em mim”, entre outras, só servem para encorpar um orgulho que não nos preenche e nem nos satisfaz.

Que a partir de agora, possamos admitir mais: “não sei”, “talvez eu tenha mesmo que mudar de idéia”, “quem sabe eu esteja enganado?”, “estou confuso, com medo, precisando de ajuda”...

E que assim, bem mais consistentemente humanos, possamos nos encontrar num abraço maior que nossos próprios braços, que nos acolha não porque parecemos sempre certos, mas porque somos sempre ‘gente’... e gente precisa de afecto!

Rosana Braga

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