sábado, 29 de janeiro de 2011

A loja na verdade é subterrânea?

Mal pude crer nos olhos quando vi
o nome do lugar: A Loja da Verdade.
Ali eles vendiam a Verdade!

A funcionária ao balcão foi delicada:
que tipo de verdade eu procurava...
só parte dela ou a Verdade toda?
Pois claro, a Verdade toda.
Não me dê decepções nem altos pensamentos.
Eu disse que gostava da Verdade
muito clara, simples, inteira.
Ouvindo isto, ela conduziu-me então
para o outro lado do balcão onde vendiam,
somente aí, a tal Verdade inteira.

O comerciante olhou-me compassivo
e mostrou-me a «etiqueta» com o preço:
«Como assim?», perguntei, determinado
a conseguir, custasse o que custasse
a Verdade toda.
«É que... se levar esta Verdade,
o preço que por ela vai pagar
será não ter mais descanso na vida».
A Loja da Verdade.
Foi o que disse o homem do balcão
e eu, triste, afastei-me dessa loja
porque pensava eu, tolo, que podia
achar a Verdade inteira... a baixo preço.
Não estou pronto ainda para ela;
quero descanso e paz, de vez em quando;
sinto que preciso ainda de racionalizar,
de usar defesas,
escondendo-me atrás dessas muralhas
que levantei com crenças imbatíveis!

Anthony de Mello, O canto do pássaro

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